A exposição é inaugurada no dia 2, às 16h00, e fica patente até 18 de junho de 2022.

Como ponto de partida desta mostra apresenta-se uma das mais importantes peças do património cultural siniense: o livro publicado por Estêvão de Liz Velho, em 1746, intitulado Exemplar da Constancia dos Martyres em a Vida do Glorioso S. Tórpes. Nesta obra surge uma das primeiras gravuras de um objeto arqueológico publicadas em Portugal – uma placa de xisto gravado com mais de 5000 anos, do Neolítico-Final / Calcolítico – cujo mistério tem fascinado gerações de eruditos e artistas.

Calouste Gulbenkian partilhava com eruditos e artistas a mesma paixão pelas obras de arte, que admirou e colecionou, e pelos livros que as dão a conhecer, muitos dos quais são, eles próprios, verdadeiras obras de arte.

São notáveis exemplos os livros que foram desenhados por Sebastião Rodrigues, a quem a Fundação deve a criação de uma imagem gráfica que, com brilho e inteligência, fez a ponte entre o seu acervo histórico e a contemporaneidade. Inspirados pelo seu trabalho pioneiro reuniram-se nesta mostra obras provenientes de três dos pilares da Fundação: o Museu Calouste Gulbenkian, o Centro de Arte Moderna e a Biblioteca de Arte.

Muitos projetos artísticos trabalham o livro, quer como meio – em livros de artista – quer como material de colagem ou desconstrução, explorando, entre outros, o potencial plástico dos caracteres e caligrafias que dão forma à palavra.

A própria fronteira entre o artista plástico e o designer gráfico nem sempre é clara, quando nos confrontamos com obras excecionais, cujo fascínio é intemporal.

Também alguns escritores entraram por este campo, criando obras de poesia visual, onde a forma do poema dialoga com o seu conteúdo.

Outras vezes é a força intemporal de um livro da antiguidade que ressurge em cada nova edição e nas gravuras feitas para as ilustrarem ou divulgarem quadros que neles se baseiam. Para Calouste Gulbenkian as próprias encadernações de alguns dos seus livros atingiram o estatuto de obras de arte, saídas das mãos de alguns dos mais prestigiados artistas e artífices.

Um observador desatento da xilogravura de 1746 poderia pensar estar perante uma obra de arte contemporânea, tal é o poderoso efeito dos padrões geométricos, especialmente daqueles baseados nos triângulos, nas tramas ou no próprio relevo que o papel ganhou no processo de impressão.

Num primeiro olhar, a placa de xisto pré-histórica parece ser uma peça abstrata. No entanto, sabemos hoje, que poderá tratar-se de uma composição antropomórfica muito estilizada, que poderá representar um antepassado ou espírito protetor.

Se hoje não conhecemos os códigos de interpretação destas obras, o mesmo sentimos perante muitas obras de arte contemporâneas, por isso, se propõe com esta exposição trilhar alguns dos caminhos que, partindo da realidade concreta, nos conduzem ao puro jogo das formas e à abstração. 

A exposição, de entrada gratuita, poderá ser visitada de segunda a sábado, entre as 12h00 e as 18h00.