Exposição no Centro de Artes de Sines alerta para poluição causada pela produção industrial de roupa
A enorme quantidade de resíduos têxteis produzidos diariamente é o problema socioambiental que dá origem ao projeto de artes visuais "A_Wear", traduzido na exposição inaugurada hoje no Centro de Artes de Sines, na abertura do Festival Músicas do Mundo.
Inserida nas iniciativas paralelas do FMM Sines - Festival Músicas do Mundo, a mostra constitui um alerta da sua autora, Ana Baleia, que materializa em peças artísticas a forma como se relaciona com o problema das toneladas de roupa descartada.
O conjunto de peças de instalação e escultura, que compõem "A_Wear", tem assim, como principal matéria-prima, roupas usadas que foram deitadas ao lixo.
Ana Baleia chamou à exposição "A_Wear", palavras que brincam com o “vestir” e com a sonoridade da expressão em inglês, que a artista traduz como “estar alerta, estar a par”, como explicou à agência Lusa.
A autora da exposição acredita que é preciso haver mais consciência da roupa toda que vai parar ao lixo, e da quantidade de roupa que compramos.
Após ter estudado Design de Moda, que tem os têxteis como matéria-prima, Ana Baleia atravessou áreas diferentes no setor. E quando trabalhava junto da produção massiva de roupa para grandes marcas, que vendem para grandes segmentos do mercado, percebeu a “poluição toda”, a sua dimensão, e a forma como as pessoas trabalham.
O fenómeno apaixonou-a ao ponto de ir à Índia ver o que se passava e falar com pessoas envolvidas na produção. Na Ásia, percebeu “perfeitamente” a forma como as peças são negociadas, os preços que se pagam, a forma como as pessoas trabalham e são tratadas. “E há sítios piores do que a Índia”, denuncia, em declarações à Lusa.
“Custa-me muito ver aquelas imagens do deserto no Chile, cheio de roupa, dos aterros, da forma como as pessoas não se conseguem livrar da roupa”, acrescenta.
Ana Baleia acredita que a solução é fazermos um “rewind” e não comprar tanta roupa.
“Sei que muitas pessoas compram roupa barata, porque é a única que conseguem comprar. Também entendo isso. A moda, se for muito cara, não chega a todos, mas acho que podemos selecionar melhor”, recomenda.
No Pátio das Artes, em Sines, nos dias 25 e 26 de julho, às 15h00, Ana Baleia dará uma oficina para crianças, entre os 4 e os 14 anos. A artista foi surpreendida com a quantidade de inscrições (cerca de 60), já feitas.
“Tinha pensado fazermos uma peça mais escultural e tinha preparado material para isso. Mas vamos fazer uma coisa mais pequenina, um bocado mais formatada, mais igual para todos”, afirma, perante a forte adesão.
Para Ana Baleia, ter muita gente também é importante, porque pretende passar uma mensagem ao maior número possível de pessoas.
Fará uma visita guiada pelas várias peças da exposição, falará de cada uma, que descreve como uma “fatiazinha deste problema”.
A ideia é as crianças fazerem qualquer coisa que levem para casa e que possam, de vez em quando, olhar para aquilo e refletir. Mesmo que o resultado artístico não seja fantástico, a mensagem é o mais importante.
A exposição "A_Wear", de Ana Baleia, pode ser visitada no Centro de Artes de Sines até 22 de agosto de 2022, entre as 10h00 e as 18h00.
O Festival Músicas do Mundo (FMM) regressa hoje ao concelho de Sines, onde vai decorrer até 30 de julho, depois de uma pausa de dois anos, com uma programação que inclui 47 concertos de artistas de quatro continentes.
Ava Rocha, Bia Ferreira, Letrux, Marina Sena (Brasil), Ana Tijoux, Pascuala Ilabaca (Chile), Queen Ifrica (Jamaica), Omara Portuondo, Daymé Arocena (Cuba), Dominique Fils-Aimé (Quebeque), Aline Frazão, Dulce Pontes e Sara Correia (Portugal) são algumas das artistas que se encontram no cartaz do 22.º FMM, adiado para este ano devido à pandemia da covid-19.
Seun Kuti & Egypt 80, Etuk Ubong (Nigéria), James BKS (Camarões), Acácia Maior, Re:Imaginar Monte Cara (Cabo Verde), Club Makumba, Fado Bicha, Paulo Bragança, Pedro Mafama (Portugal), Albert Pla, Angélica Salvi e Baiuca (Espanha) estão também entre os artistas confirmados este ano.
À semelhança de edições anteriores, a programação reparte-se entre a aldeia de Porto Covo, entre hoje e domingo, e a cidade de Sines, de 25 a 30 de julho.
Além dos concertos, a programação do festival inclui uma série de iniciativas paralelas, como exposições, ‘workshops’, visitas guiadas, animação de rua, uma feira do livro e do disco e debates.
O programa completo do 22.º FMM pode ser consultado no site oficial do festival, em www.fmmsines.pt.
LUSA